Enquadramento Histórico

A instituição da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim foi criada em 1756 por diligência da Câmara Municipal e auxílio pecuniário de Maria Fernandes da Vila Velha. “Foi a primeira erecção (da Santa Casa) feita pela Câmara em 23 de Maio de 1756” e ratificada pela Câmara, Nobreza, Clero e Povo em 8 de Junho do mesmo ano.
“Aos oito dias do mês de Junho de 1756, nesta vila da Póvoa de Varzim e na Casa da Câmara dela aonde foram presentes João Francisco Cruz, juiz ordinário dos órfãos (…) e bem assim os vereadores António Manuel Craveiro, Luís Francisco de Castro e o Procurador do Concelho Domingos Francisco Marques todos oficiais do Senado da Câmara desta Vila e seu termo por Sua Majestade que Deus Guarde (…) e bem assim todas as pessoas governada nobreza e povo dela abaixo assinados ali pelo dito Senado da Câmara foi proposto ao mesmo povo que como no dia 23 de Maio próximo pretérito deste prezado ano comum assento se tinha erigido de novo a Irmandade ou Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia nesta Vila para se satisfazer a pia e venerável recomendação e exortação que o Senhor Rei D. Manuel de feliz memoria fizera por carta sua a todas as cidades, vilas e lugares deste reino (…) para melhorar serviço de Deus Nosso Senhor e de Sua santíssima Mãe a Virgem Maria Senhora Nossa e se exercerem todas as obras de misericórdia para socorro e alívio dos pobres necessitados e presos desamparados …” (Instituição, ou erecção da Santa Caza da Mizericórdia desta Villa da Póvoa de Varzim’’, documento manuscrito guardado nos arquivos da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim).

“A pedido de alguns beneméritos devotos desta vila, e com as promessas de auxilio material desta Maria Fernandes, o povo e a Câmara, em sessão de 23 de Maio de 1756, resolveram ceder a igreja (velha) condenada a demolição, para nela se instituir’’ a Santa Casa. (Jorge Barbosa, Toponímia da Povoa de Varzim, in Boletim Cultural “Póvoa de Varzim’’, vol.X,nº1,1971,pág.137).

A Igreja Matriz da Póvoa construída em 1685, no então lugar da Mata, era pequena para almas da Vila, por isso, mandou-se erigir um novo edifício mais amplo (actual Igreja Matriz), mas, como o dinheiro não abundava na terra, não podendo, a fabriqueira, sustentar duas igrejas, tencionava-se destruir a igreja velha, deixando apenas a capela mor ou um padrão para lembrar a sua existência. “ Ao tempo em que se considerava demolir a igreja antiga logo que se celebrassem os divinos ofícios na nova igreja, deixando só n’aquela, ou a capela mor, como ermida, ou um padrão no adro para memória, não faltaram espíritos humanos, que talvez alumiados do divino espírito falassem em que seria louvável erigir-se n’esta vila uma Santa Casa da Misericórdia.

A escritura da doação de Maria Fernandes fez-se no dia 30 de Maio sendo outorgantes a doadora e o Reverendo Dr. Domingos José Rebelo, Reitor da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

A Confraria dos Santos Passos fundada em 1699, ficou agregada á Misericórdia com todos os seus bens, imagens e legados e o juiz serviria de Provedor enquanto não se procedesse “a eleição na forma dos compromissos e que seria a Misericórdia regida pelos Compromissos das Misericórdias de Lisboa e do Porto na parte que fosse aplicável ao estado desta Vila cujo termo, ou acórdão foi julgado por sentença pelo juiz ordinário e Câmara.” (Instituição ou erecção da Santa Casa da Misericórdia desta Vila da Póvoa de Varzim”, documento manuscrito guardado nos arquivos da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim).

A eleição do primeiro Provedor realizou-se no dia da Visitação de Nossa Senhora a 2 de julho, sendo o seu primeiro Provedor o Pe. Dr. Domingos José Rebelo, que viria a falecer, em Braga, em 26 de setembro de 1756, sendo substituído por Francisco Leite Ferreira, que fora eleito em dois de outubro do mesmo ano.

Desde o início, a Santa Casa preocupou-se com os desprotegidos da sorte e pôs em prática as obras de misericórdia que os Compromissos de Lisboa e porto recomendavam.

Já em 1756, a Mesa Administrativa contrata um boticário para preparar e fornecer graciosamente os remédios para a cura das maleitas dos pobres. Esta prática ainda era comum no século XX.

Para além dos medicamentos, a Santa Casa patrocinava banhos quentes, frios e de assento, para aliviar o mal de alguns enfermos.Prestava também auxílio económico, àqueles que não tinham meios suficientes de sobrevivência. A prática de empréstimo de dinheiro, com juros, era também frequente.

A Santa Casa, em tempos não muito longínquos, procurava rentabilizar as suas economias com a troca de qualquer donativo ou saldo em aquisição de títulos de inscrições da Fazenda Nacional.